quinta-feira, março 27, 2008

Mesquita da Baixa - Maputo

Mesquita da Baixa, criada há mais de um século, em Lourenço Marques, actual Maputo. Os indianos associaram-se para, em comum, praticarem o culto islâmico, constituindo entre si a chamada "Comunidade Maometana Indiana". Lourenço Marques era então um pequeno povoado rodeado de pântanos e lodo. Em 1876, Hava Ali, doou um terreno na denominada Travessa do Funil (Rua Salazar; Rua da Mesquita) para que se construísse a Mesquita, uma modesta barraca de madeira e zinco, onde, com regularidade passou a exercer-se o culto islâmico. Em 1887, a modesta barraca de madeira e zinco foi substituída por uma construção mais ampla, em alvenaria. Era vultuosa para a época, cuidadosamente trabalhada em estilo árabe de interiores frios e sóbrios e exteriores decorados com caprichosos rendilhados sob temas florais e traços geométricos. Consta que depois de concluída veio a custar 4550 libras. A Mesquita, com planos rectangulares, tinha a particularidade de não ser cópia de qualquer mesquita conhecida. Dispunha de local próprio para as abluções rituais como é uso. Caprichou-se na entrada do templo, com um portão árabe de acesso ao interior, em arco quebrado. O Arco com semelhante configuração como motivo decorativo foi pela primeira vez usado na Mesquita de Ibu Tulum, no Cairo, no ano de 870. Tornou-se mais tarde em espécie de emblema da fé islâmica. Quando a cultura árabe penetrou na Península Ibérica passou a prevalecer nas mesquitas o arco em ferradura com cabeça semicircular. O edifício da mesquita, que era todo ele um templo e seus anexos, sofreu em 1902 algumas alterações. A entrada do recinto sagrado da Mesquita faz-se através de um arco sob o qual está escrito em língua persa o seguinte versículo de um poema: "No dia do julgamento final a primeira pergunta será se fizeste as tuas orações". No interior, imaculadamente branco e exuberante de lustres, destaca-se a "Miraba", que nos indica a direcção de Meca, santuário dos muçulmanos, e lê-se em caracteres árabes o seguinte: "LA ILAHA ILLAH! MUHAMMAD-U-RASSUL LAHI" (ALLAH é Deus único e Muhammad o seu mensageiro). Em baixo a data - 1902. Na mesma parede onde está a "Miraba" e á direita de quem entra, pende dela uma relíquia sagrada: um pedaço do manto negro original que cobre a "Alcaba" e foi trazida de Meca por um peregrino. O chão inteiramente atapetado por uma riquíssima alcatifa persa. A Mesquita, depois da alteração introduzida em 1902, ficou com seis minaretes simbólicos e no topo com dezoito pequenos crescentes apontados para o céu, símbolo da fé islâmica. O prédio na época não chegou, porém, a ser objecto de registro na Conservatória do Registo Predial, onde a primeira referência a Mesquita aparece numa descrição de um prédio anexo, registado em 24 de Agosto de 1889, dado nesse ano por ali existente.
Em 29 de Julho de 1907, chegou em visita oficial a Lourenço Marques, Sua Alteza o Príncipe Real D.Luís Filipe, que seria futuro Rei de Portugal, se a morte o não ceifasse no ano seguinte. A comunidade ergueu um enorme pavilhão na Praça Vasco da Gama, e tendo o Príncipe aceite amavelmente o convite que lhe fizeram, no dia seguinte, pelas 10 horas da noite, após o jantar no Palácio da ponta Vermelha, dirigiu-se ao pavilhão, sendo recebido com todas as honras pelos dignitários da comunidade. A festa decorreu brilhantíssima e com numerosa assistência. O comerciante I. Tavá leu uma mensagem dirigida ao Herdeiro do Trono de Portugal, exaltando a generosidade da hospitalidade.
Por portaria N 2407m, de 16 de Janeiro de 1935 foram aprovados os estatutos da comunidade, que por tal efeito adquiriu personalidade jurídica sob a designação de "Associação da Comunidade Maometana Indiana", depois mudada para o de "Associação da Comunidade Maometana Paquistânica". Assente em terreno foreiro à Câmara Municipal, o qual constitui a parcela N.º 3 do talhão N.º 139 do cadastro da cidade, com área de 575,71 metros quadrados, a Mesquita da Rua Salazar, foi construída no mesmo ano em que El-Rei D.Luís I ergueu Lourenço Marques a essa dignidade – viu crescer à sua volta em passos de gigante a cidade moderna que a envolve e na qual ficou a assinalar uma época. Na actualidade, a mesquita da baixa foi restaurada, ampliada, e no acto das várias beneficiações, recebeu altas individualidades do estado moçambicano.